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quinta-feira, fevereiro 21, 2008

FAUSTÃO: A ternura e a garra do grande guerreiro - por ODEMAR LEOTTI


Homenagem do Odemar pelos 60 anos do FAUSTÃO

Eu não poderei estar presente, mas deixo minhas homenagens ao meu grande companheiro de grandes jornadas: primeiro pelo seu aniversário e juntamente a isso, pela forma séria e dedicada ao povo de seu país, pelo qual colocou em risco sua integridade física e de sua família. Minha homenagem se estende á forma sadia com que se fez nessas seis décadas de vida. Lutamos muito, choramos, sorrimos, desanimamos e rapidamente a gente se levantava e continuava nossa jornada de luta.
É esse Faustão que aí está sendo homenageado. Sinto-me maior de ter sido seu amigo e companheiro. Fui seu aprendiz. Foi com ele que aprendi boas partes de meus arremessos na vida. Foi com ele que aprendi o valor das leituras. Foi com sua biblioteca que me contaminei com as palavras. Era ele, juntamente com o grande poeta Leônidas Arruda, o Waltinho, e tantos outros companheiros. Ali na Gráfica Libertação, a gente se fazia pertencentes a um mundo e tentava refazê-lo, tendo nas cabeças os sonhos que nos alimentavam.Lembro-me do Fausto em sua dedicação total à sua vontade de ajudar nosso país a ter um espaço para uma vida decente. Tal como Guevara teve que se ausentar dos filhos tantas vezes, para atender às lágrimas de tantos outros seus filhos. Sabia se doer com a injustiça perante seus olhos. Com a mesma doçura que afagava um rosto de criança de rua se erguia como um animal bravio contra seus algozes. Sabia gritar com a mesma força que tinha de se render a uma fragilidade infantil quando precisa de uma palavra doce para aquietar sua dor provocada pelo desprezo da sociedade.
Um médico do povo. Lembro-me, e nunca me esqueço, me arrepio ao pensar nessa memória bela: Fausto acariciava no rosto cada pessoa que encontrava. Andava no Bairro Goiá a alisar os rostos de crianças, velhos e todas aquelas pessoas que já imaginava a não existência da solidariedade. Faustão arrancava um sorriso de lágrimas secas daqueles rostos surrados pela indiferença com que foram tratados. Fico nostálgico quando me lembro de ter acordado várias vezes ouvindo aquela voz grave e altaneira na porta de casa: Aí Demão, vamos à luta companheiro. Ele entrava acariciava cada uma das crianças e lá íamos nós. Os caminheiros da luta por um Brasil sem tanta dor e que tivesse a escrita saída das entranhas do chão.
Se não for inoportuno gostaria que fosse lida essa minha homenagem em seu aniversário e na sua posse. Não se torna obrigatório, mas seria o meu presente de aniversário ao meu companheiro que considero como meu irmão de luta. Abraços Fausto, parabéns e muito obrigado pelo homem que sou hoje. Muito de mim tem de seus enunciados, de seus entusiasmos, dessa vontade férrea que nos contaminou. Ti amo meu irmão. Utilizo-me de minha coluna no jornal dirigido por outro de nossos velhos guerreiros, o José Milbs, para colocá-lo no panteão dos guerreiros de nossa terra. Feliz aniversário e parabéns à sua família, principalmente a Anilzene minha companheira querida. Saudades de tempos em que o desejo de liberdade era nossa refeição diária. Feliz posse. Você, que fez o SER das coisas tornarem-se letras da vida, tenho certeza que levará a força e potência de suas palavras para essa instituição. Obrigado por tudo. Feliz aniversário.


  • Fausto Jaime é médico em Goiânia. Tem pós-graduação em doenças tropicais. É hoje o que se pode chamar de um grande pensador e tem um raio múltiplo de atuações em variadas áreas do saber e da intervenção política, cultural e social. Foi militante de esquerda durante os anos de chumbo do Brasil e continuou sua luta após o regime militar, ajudando a fundar o Partido dos Trabalhadores em Goiás. Além disso, participou da construção da organização sindical e de movimentos sociais urbanos. É escritor e ensaísta, com vários livros publicados. Vai assumir cadeira na Academia de Letras de Pirenópolis, município goiano que o viu nascer.