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sexta-feira, agosto 01, 2014
XIX SEMANA DE HISTÓRIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - HISTÓRIA, MOVIMENTOS SOCIAIS E SUBJETIVIDADES
terça-feira, maio 29, 2012
sábado, novembro 13, 2010
FALTA-NOS TANTO A VIDA, QUANDO SE FALA TANTO EM PROGRESSO
Odemar Leotti
O título desse texto é uma paráfrase do início da introdução de Teatro e seus duplos, da autoria de Antonin Artaud. Na década de 30, do século XX, ele dizia que falta-nos tanto a vida quando se fala tanto em civilização. Hoje, poderíamos dizer que ela nos foge e se confunde com um novo formato do conceito de progresso, esse mesmo progresso que seria o caminho a ser construído para salvar todas as culturas classificadas, numa construção positivista, como atrasadas, e da necessidade de dar-lhes vida, que somente seria possível através de sua evolução ao patamar das tão sonhadas nações civilizadas.
Vida: concepção arrancada do nada para se alojar nas palavras e instaurarmos-nos na sensação de nossas subjetividades. Para construir nossa flutuação e possibilitarmos nossa barcaça sobre esse oceano das coisas inatingíveis. Cada qual, cada grupo, casa, sociedade se junta e se entendem e desentendem, se impõem regras, excluem e incluem no afã de se entender fazendo a vida florescer. Se subjetivar nas raias de nossos sentimentos ou ter que aplacar a dor de sermos obrigados a navegar nas formações que nos roubam o espaço dos desejos, ao senti-los mapeados pelo conjunto de regras de uma guerra tornada política e seus poderes tornados fortes e positivados pela positivação de uma vontade de verdade formatadora e instaurada em sua função de episteme. Daí tornarem-se ementas e determinar grades para as formas desejantes, eis o passo do que vemos com tanta inocência e sonambulismo. De resto, ficam os desarranjos produzidos e nossa angústia para deles nos desvencilhar ao termos que enfrentar os dragões que vigiam as portas do nosso encontro com nós mesmos, esse lugar em que fazemos estrangeiros.
O que nos faz separar vida de cultura? Porque aprendemos que existe sociedade de um lado e cultura dela separada, ou sendo vista como seu subproduto? De que forma essa maneira de sentir as coisas nos comanda. O que pode fazer coincidir cultura e vida. O conhecimento foi feito para que seja cultuados e a imposto como conteúdo através dos dispositivos educacionais tais como acontece em nossa realidade educacional? Ou o conhecimento deve ser algo com o qual nos arregimentamos para poder cultivar a vida, tal como as saberes de um agricultor no seu trato na produção de uma cultura agrícola visando o cultivo da planta para com ela cultivar o corpo dos seus convivas: da sua família, da sua comunidade, do seu município, do seu estado ou país? Então por que sentimo-nos na arrogância de um saber erudito e ao invés de ajudar os aprendizes a formar uma leitura que o localize para constituir-se como livre espírito do caminhar, o impomos um conhecimento que determina a verdade prescritiva do seu passado, do seu presente e lhe ensina para onde vai, engessando qualquer possibilidade da criação do novo? Paramos um segundinho para olhar para traz e observar algo estarrecido, de que estamos construindo uma forma de saber que se parece muito com um pensamento que tem fome de chão e que vive numa artificialidade por achar que o mundo deve se igualar a esse conhecimento para ter sentido?
Se viver é o que precisamos, então o que é viver para cada um de nós? O que é a vida hoje? Devemos continuar a defender ou mesmo nos inventar a partir de uma forma de conhecimento que não atende aos clamores de milhões de seres que não tem o que comer ao menos? Devemos ficar horas e horas tagarelando em defesa de uma forma de saber que faz com que milhares de pessoas chorem e se desvanecem em bandos cada vez maior e mais intenso de solidão, depressões mesmo tendo o que comer? A existência da cultura que tantas vezes defendemos já salvou alguém de ter fome?
O que seria mais urgente hoje? Continuar a obedecer a essa forma cultural que nunca salvou nossas vidas, de tantos dissabores? Que nunca teve complacência com os atos de cada um, que ao confiar a essa forma cultural despejara todas as economias culturais, ou seja, jogou tantas singularidades culturais, na certeza oferecida e as destruíram moralmente, politicamente e economicamente? Uma forma que proporcionou e ainda proporciona lágrimas às suas crianças por ter confiado na maneira de agir a um ensinamento cultural que ao invés disto roubou-lhes e aos seus suas possibilidades de uma vida efetiva?
O que precisamos então fazer? Não seria extair, conforme nos provoca Artaud, algo realmente nos efetive, nos plante nesta dádiva que nos é colocada à disposição que é a vida em toda sua extensão biológica com seu mar de mistério inesgotável para nos alimentar de espírito e corpo? Sim, afirma Artaud: “seria extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome”. Que seriam estas idéias com qu precisamos funcionar? Que idéias seriam estas, senhor leitor? Não seria a idéia de que o viver é uma possibilidade que para se dar torna-se imprescindível estarmos vivos em todas nossas concepções vitais biológicas e espirituais, ou melhor, os dois se misturando num emaranhado sensual? Para tanto não precisaríamos acreditar, ou melhor, dar créditos à possibilidade de nos instaurarmos em vida, nos colocarmos em seus fluxos constantes. Para Hölderlin, um pensador do início do século XIX, a vida se dá por fluxos e não por miséria. Devemos ver esses fluxos como vida ou como erros profanos que devem ser esterilizados por um pensamento puro e sistematizador que depure os seus elementos os distinguindo de uma teia mundana que a ciência veria como desordenada. Para Artaud: “Acima de tudo precisamos viver e acreditar,no que nos faz viver – e aquilo que sai do interior misteriosos de nós mesmos não deve perpetuamente voltar sobre nós mesmos numa preocupação grosseiramente digestiva”.
Nietzsche ao questionar o mau uso da cultura do pensar nos adverte sobre o desconhecimento de nós mesmos. Isto não seria um alerta para o quanto nos submetemos a um sonambulismo, fundamentados de uma abstração que ao instituir-se se apodera de nosso corpo e o mata, o trucida, o deixa escravo, tornando seu usuário um espírito pobre,inóspito, árido, solitário, presa de um estrangeirismo de si mesmo?
Ao nos abarrotarmos com um pensamento totalizador, enciclopédico, acumulador estamos sendo produzidos em uma forma de um sujeito feito de um exercício de poder que nos faz formigas carregadoras de bens, de frutos, de néctares não para saciar nossa fome do presente mas para acumular depositar de alimentos para o dia em que tivermos iluminações suficientes para podermos utilizá-las como uma sabedoria dos fins últimos, dos tempos finais ou mesmo em um outro mundo. Pior ainda é nos entendermos como membros de uma Humanidade e que esses fardos cotidianos serão utilizados por outra geração que nasceria num estágio paradisíaco, quando essa Humanidade for constituída em uma história transcendental. Fazer com que nos orgulhemos de ser inventados como sujeito dessa história abstrata e fazer-nos orgulharmos-nos dessa tarefa histórica e ver tanto dinheiro público gasto em defesa desse sonambulismo. Pior ainda é quando somos convencidos de transformar a única forma viva que é nossa atualização presente em um fardo onde trabalhamos até a exaustão e nos sentimos orgulhosos disso. O pior e mais escandaloso é saber que o presente já chegou em alguns recantos para uma minoria que usufrui de nossas energias canalizadas em iates e hotéis de luxo como Búzios, Punta del Leste, Angra dos Reis, etc. saber que todo nosso fardo é para alimentar uma minoria, que tenta ao custo dessa ignomínia, se satisfazer para superar sua própria pauperidade espiritual, essa pobreza que somente sabe adquirir dinheiro. Assim tanto a maioria faminta literalmente e a minoria faminta espiritualmente que vive com a alma magra e o bucho lotado, estão na mesma barca perversa dos famintos de vida. Mesmo assim a maioria fabrica manifestações em seu cotidiano cultural e que é industrializado pela minoria faminta da alma, para encher ainda mais suas entranhas insaciáveis e famintas pela aridez artística com que são formadas.
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A FRAGILIDADE E CONSISTÊNCIA DAS PALAVRAS
Odemar Leotti
Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página: por isso a palavra escrita é muito triste. Mario Quintana.
Cuidemos de tudo que decida nossa vida. Nossa vida? Não a temos pronta. A temos sempre sendo, sempre sendo e sempre tecida no dia a dia. Esse fazer constante da vida pelas palavras, através das palavras tornadas signos encadeados. Feita de palavras, mas antes de tudo dentro de um espaço político. Político entendido como um campo de guerra de todos contra todos. É nessa interface entre as palavras e as coisas que se dá o teatro político. Entendendo nesse caso política como continuidade da guerra por outros meios em uma terra conquista e usurpada pela força. A vida como “lugar da improvisação e da rigorosidade matemática, como no teatro. As coisas estão por aí, devemos buscá-las procurando, uma linguagem através dos signos, de gestos e objetos, com a ‘importância dos sonhos’”. A reunião que cada qual faz da palavra obedece a leis, diria a regras de sua aparição. Leis e regras são coisas dos homens e o mundo nasce das semelhanças das palavras: as palavras semeiam semelhando a vida. Sêmens seminam e a magia das palavras tecidas no cotidiano enredam possibilidades entrelaçada de palavras poetizadas e ditas no fazer inseminado de vida.
A diferença surge das analogias que tomam assento em novas territorialidades violentando-as e tornando-as contaminada de novas formas de ocupação do seu espaço. Esse espaço das palavras sofre com essas capitulações, novas analogias de sua formação e é dentro dele que os corpos se movem e é aí que as relações que emanam de cada imanência se cruzam, se resvalam, se contaminam e formam novas territorialidades diferidas no espaço e no tempo. Novas palavras, novas violações da natureza das coisas.
Eu acrescentaria que para nós as formas das escritas Astecas, Incas, da infinitude dos mistérios das múltiplas culturas das sociedades aqui existentes antes do ato de violação chamada de conquista, contaminação irreversível do ser das coisas. Estas formas de vida forram submetidas pela guerra de conquista e depois essa guerra tomou forma em guerra dos sentidos. Tudo se tornou um emaranhado de sentidos, mas predominou como saber dominador, o do invasor em sua tentativa de supressão do espaço das multiplicidades, tanto das culturas quanto de sua transmigração para o interior de cada um. O que podemos dizer que primeiro foi a guerra depois a política como sua continuidade.
Não podemos generalizar a vitória de um lado, pois as contaminações se dão de todos os lados no embate dos sentidos e de suas apropriações infinitas no tempo e no espaço. Foram contaminados pelos europeus, mas estes se contaminaram com os saberes e podemos dizer inclusive fizeram uso dessas culturas em situações complicadas que trazem e trarão grandes problemas, tais como o uso de drogas adquiridas com essas culturas. Portanto antes de a eles se “submeterem” os submeterem a novas analogias misturadas e disfarçadas pelas simulações, porém mesmo não sendo intencional, podemos dizer que o próprio ato de apropriação se dá com cada forma do estabelecimento das leituras e das condições de sua produção e não unicamente como quer um tipo de historiografia. É nesse palco improvisado e rigoroso em suas formas análogas das palavras e dos símbolos que nos sentimos sendo, nesta terra mundializada em tantos mundos e em suas digladiações simbólicas.
"O Pesa nervos", “a vida é queimar perguntas”, o que deve reportar a Pedro Abelardo, [30 nota] dando um passo além de Descartes: a dúvida não deve ser apenas metódica até alcançar a evidência, mas a atividade mental deve ser levada a um tal ponto de interrogar-se que chegue à "destruição da evidência".
Pode-se observar nisto tudo a palavra dançando na linguagem, tirando dela toda a sua solidez e fragilidade simultâneamente. Se alquebra à menor insinuação criada e se fortalece perante torrentes ifernais: eis aí a linguagem do ser. Um Instaurar-se no espaço do sensível regrado pela força que media a criação. No solo inseguro da linguagem que desmonta, destitui e faz do ser uma eterna guerra e vigília do entendimento do mundo. Mundo feito para ser feitura constante onde quem quer que seja, será seu protagonista da feitura. E isso não para de ser assim. Se não fazemos o uso das palavras de forma salutar elas nos vem como coisificações de forma perversa e destruidora. As palavras servem, ao mesmo tempo, para fazer vivificar a vida e quando fora do controle da poética da maioria, volta contra nós e o faz para enunciar a morte. Vivemos nessa vertigem constante. Não podemos entregar a trama da escrira que funde nosso ser aos cuidados dos que nos querem destruir subordinando-nos a uma subvida ou nos destruindo quando nada podemos lhe oferecer. O estanhar do mundo é uma constância na luta em torno dos sentidos. O que nos oferecem como forma pronta pode ser nossa destruição naquilo que nos caracteriza como ser pensante. Portanto a evidência deve ser usada e descartada ou nem mesmo usada, porém o importante é que não aceitemos nada como evidência definitiva, e devemos sim perseguir a resposta e massacrá-la com novas perguntas. Os sentidos são como uma teia de aranha: é frágil a ponto de se desmanchar a um leve toque de dedo, porém tem a consistência e a solidez das rochas ao enfrentar a mais forte tempestade. Ao encontrarmos uma teia em um ramo de árvore e a tocarmos se desmancha facilmente, porém se quebrarmos essa galha e a jogarmos a um mar enfurecido, a teia flutuará e se condicionará no relevo de suas ondas e sairá intacta. Essa metáfora da teia, nos presenteada por Nietzsche, serve para entendermos que a vida é feita de signos, de sentidos produzidos na linguagem, e, portanto tem a fragilidade de se desmanchar a um pequeno toque e a consistência de suportar as mais terríveis avalanches. A vida é produto de nossa eterna vigília e tessituras infinitas. É isso a vida: o nada e o ser-no-mundo, sendo feito e refeito onde somos artistas de nós mesmos.
segunda-feira, outubro 11, 2010
Protec é igual privatização das escolar técnicas que lula fez
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terça-feira, junho 15, 2010
DIÁLOGO ENTRE UM VIAJANTE E SUA SOMBRA
O final de século XVII foi palco de uma ruptura produzida, onde a representação se desdobrou por sobre si mesma e criou uma consistência mais forte ainda no início do século XVIII se consolidando no início do século XIX, com o surgimento das ciências do homem. Para podermos entender com mais familiaridade o que se quer quando afirmamos sobre as produções que configuraram a imagem do homem, na forma tal qual o vemos emergir nos escritos historiográficos até nossos dias, é preciso rever nossa leitura a partir do período clássico europeu. O alongamento da argumentação desse tema, demanda tempo e espaço que escapa às necessidades que ora nos apresenta em nosso projeto. Porém ela será mais bem estendida quando da complementação dos estudos que retratam a instituição da forma de saber clássica que instituiu uma forma sistemática do ser inventando um homem com linguagem, vida e trabalho sistematizada no momento cartesiano e com uma missão de ser o sujeito da sua emancipação e do mundo tal qual aparece nos textos kantianos. Para falarmos em história, devemos entender a invenção desse Homem, com as questões não discursivas que foi a implementação do Estado Nacional e o projeto administrativo implantado por uma burguesia que despontava e que usurpou o poder da cultura guerreira e de sua forma de poder. Pra tanto é importante o cruzamento do estudo das formas de construção do passado com a tentativa da construção da figura do Estado e de sua fase republicana no Brasil. O que pretendemos é mostrar que paralelo a um espaço da escrita que inventava um passado, esse se dava como busca de uma origem nacional, voltada para a figura não mais de um olhar da Europa para o Brasil mas voltado para seu interior: inventar a partir daí uma origem da fusão das raças e com elas dos tempos: um tempo primitivo que se instituiu como espaço “atrasado” e uma cultura intelectual que se atribui a si mesmo o papel de reorganizar os nexos históricos e toda uma rede institucional de coerção a tentar implantar uma legitimidade do presente sobre as múltiplas ações dos homens.
Tomando o cuidado de não distanciar do problema que estamos enfrentando, gostaria de contabilizar o que já dissemos nesses parágrafos anteriores. No primeiro parágrafo, discorri de um problema que me levou à dificuldade de entender as explicações intrincadas da formação do quadro no século XVII. Sem entender bem foi ele que me veio ao pensamento quando quis escrever sobre o que o que estamos nos embatendo no momento de falarmos do passado, e no nosso caso específico, com o passado recente de Mato Grosso, está falando do “problema” quanto a forma de construir o “problema”. Não estaríamos falando que tal problema reside não no que o quadro invisível nos oferece, ou seja, a forma invisível onde estariam retratado os protagonistas de um tempo, colocado nesse quadro pelas mãos hábeis que deram volume a essa realidade. Esse seria a primeira camada, ou o primeiro ato da produção. Porém o quadro aparente parece mostrar – pelo menos à leitura que ora consigo fazer - um quadro onde o pintor retrata e é retratado pelo próprio expectador. Ou seria como que uma criatura estaria naquela situação dando-se à seu desdobramento sob o olhar do seu criador.. Aliás, entra ainda mais o meu lugar de leitor e de tantos outros que se põem a interpretar o passado como uma obra. Aí ainda reside uma nebulosa que não consegui me desvencilhar. Porem seguindo meio incerto à frente da obra, pela fuga dessa dificuldade de leitura, pude notar que essa representação como lugar do conhecimento sofre tal deslocamento no século XVII e sem sua discussão torna-se inócuo levarmos a efeito a discussão dos problemas que no presente nos afetam. Poderíamos também seguindo a linha do espelho, falar em sua proliferação de imagem que se multiplicam sem fim, mas, porém sem haver a possibilidade do novo. O que fica é somente repetição, impedindo os pontos de fuga. Gostaria de volta a isso após mais leituras de outros lugares.
A forma pela qual tento entender-me e fazer meu leitor, (aqui me incluo nesse “meu leitor”) entender, ou seja: a necessidade desse deslocamento nos procedimentos de pesquisa foi para entender que devemos estranhar as formas historiográficas que produziram essas proliferações sobre o passado. Com isso queremos problematizar as formas problematizadoras que as instituíram e deram ao nosso viver essa sintaxe, ou melhor, esse quadro tido como realidade.
Quando nos deparamos com discursos que nos parecem dispersos e sem haver um com o outro, fico preocupado se não seria nossa forma de leitura que estaria nos levando a ver tudo isso como dispersão. O sentido de dispersão e dissonância não é aí uma forma de poder que se faz funcionar quando nos damos a ver a partir do entendimento que as formas emergenciais são estanques umas às outras? Acho que a minha dor tem certo parentesco com a dor dos personagens e os lugares que foram reservados a eles, ou na extensão da proliferação espelhar, de todos nós. Como resultante disso temos que nos relacionar nesses espaços territorializados do saber historiográficos ou antropológicos encaixotados, fragmentados que nos deixam pouca margem para a criação. É comum ouvirmos certas afirmações com a que segue. Os índios devem ser objeto de estudo dos antropólogos. A sexualidade dever ser objeto de estudo dos estudiosos de gênero. Será que isso não seria a armadilha que às vezes caímos. Será que nossa incapacidade de sairmos do lugar de nossa subjetivação nos impede de superarmos essas familiaridades perversas. O que tem a ver a política indigenista com a história da sexualidade, o instituto histórico e geográfico e a vinda dos salesianos a Mato Grosso? Eis aí a grande tarefa: mostrar a inocência dos fatos, suas pretensas dispersões não seriam já em si frutos de uma artimanha do exercício do poder? Ou melhor, do exercício que deixe de ser uma verbalização e passa a ser apoderado em sua forma de ser, in síntese: um poder substancializado e que não se desfez para se renovar. As leis são pulsões que nos tiram do terror do nada e ajuda a constituir o nomos numa conjunção divinizada com a phisis. Não seria uma forma de abrigar as variações que obstam a possibilidade do contínuo, dos nexos das coisas, ou melhor, ainda, não seria a tentativa de harmonizar tudo que causa turbulência à formação dos nexos de uma história que se quer finalista e corretora das diversidades. Os pontos de fuga não seriam ao contrário as extensões multiplicadoras que fogem ao olhar normalizado e lhe causaria vertigem?
Quando nos remetemos a esses dois lugares da leitura – a nomeação e as coisas o fazemos para a necessidade de divinizar a vida como obra de arte e tudo se dá num emaranhado. Esse emaranhado é um espaço de agenciamentos de poderes imanentes ao ser e ele contém nosso aprendizado e nossa sexualidade: enfim o espaço da instituição do Estado Nacional na conceituada como Fronteira Oeste, teve como protagonistas múltiplas formas de ser e com ela se colocava em jogo exercícios de poder: exercícios religadores de leis e corpos.
O que queremos com isso? Não seria desvendar essa fronteira em que é colocada a identidade intelectual? Quando falamos de espaços imanentes o entendemos como de agenciamentos de desejos e com eles de um saber de sua efetivação divinizada como obra de arte. Portanto não estaria falando das palavras e nem das coisas e sim de uma fusão de ambas por um jogo de poder. De que estaria então falando então? Não seria das práticas discursivas instituídas que deram autoridade de fala a um poder configurado na imagem do Estado Nacional e com isso a toda uma reviravolta na forma de pensar do mundo? Se ligarmos a um fato de discurso em que o pensamento do século XVI, onde o ser das coisas se desloca do emaranhado do mundo, da semântica que era carregada de mistérios onde os signos tinham um valor absoluto em si, as coisas já estavam carregadas de significados que os assemelhavam. Se adentrarmos ao século XVII na Europa poderemos visualizar que o saber a partir daí, deserta desse emaranhado do mundo. Se antes o livro estava a serviço do desvendamento dos mistérios do mundo, na fase clássica o mundo é que deve se adaptar ao livro. O que era semelhança passa ser entendido como diferença, torna-se dado a ser coletado e tirado desse fervilhar rizomático para ser anexado a uma história universal da contingência. E só passa a irradiar sentido quando submetida a um sistema de pensamento.