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segunda-feira, fevereiro 04, 2008

NATUREZA AUTOFÁGICA – ODEMAR LEOTTI

Quando a primavera já não prima mais veras -verdades-, vem o outono, ele precisa se verter a si mesmo e alimentar-se de suas folhas em uma autofagia total. Ventos vêm para ajudar na ceifa das folhas que o sol secou e a falta d’água ressecou. Aí revigorada volta a ter primazia sobre si mesmo e as veras verás cada qual. É a prima verando vida, cores, odores. É o encantamento da vida. Abelhas, colibris, borboletas, essas gentes de vida curtinha, mas encantadoras, voam no entorno dessa magia. Fazendo, refazendo, auto-flagelando e realimentando de si próprio, eis o ciclo da vida. É assim que somos e não queremos em nosso anseio de uma origem de uma divindade mórbida e estéril que nos faz origem de nós mesmos. E em nossa soberba lamentamos uma unha cortada, um pedaço de pão doado. Esquecemos que a autofagia volta para nós mesmo em forma de flores. É a magia dada pela ciclagem da vida. Não temos mais nenhum lugar de onde buscar a continuidade a não ser abrindo mão da vida. Da vida, ora que paradoxo. A vida nunca termina, ela se vai e vem nesse ciclo mágico e belo da poética.
Em tempo: um dia quando minha filha, estando comigo em um velório, ela pequenininha falou na frente de todos: porque eles estão chorando pai? Eu falei que era porque havia morrido um ente querido. E ela prontamente em sua leitura de criança retrucou: Ué pai as pessoas tem que morrer para dar lugar para as crianças nascerem! Todos ficaram perplexos e mudos. E aí nos fomos embora. A vida está aí é só abrir nossa janela.
Foto: Passagem na mata - Obra de Wander Melo