FOUCAULT, E A CRISE DO SONAMBULISMO HISTORIOGRÁFICO - Odemar Leotti
Não seria possível encerrar o estudo desse capítulo sem deixar terminá-lo tal qual Foucault assim o fez com suas palavras aterrorizadoras para aqueles que vêem a história como emancipadora da humanidade. Para esse filosofo que se fez historiador esse tipo de análise constitui-se como um perigo. É que, segundo ele:
Em lugar de dar fundamento ao que já existe, em lugar de reforçar com traços cheios linhas esboçadas, em lugar de nos tranqüilizarmos com esse retorno e essa confirmação final, em lugar de completar igual número de incertezas, que tudo se salvou, sejamos obrigados a continuar fora das paisagens familiares, longe das garantias a que estamos habituados, em um terreno ainda não esquadrinhado e na direção de um final que não é fácil prever. (44).
Nesse ponto há uma ruptura com uma história que garantiria uma confirmação final. Mostra sim que ao entendermos que mais do que uma objetividade o que o historiador tem encontrado é um espaço em branco onde ele com seu manancial discursivo, materializado por narrativas que lhe compõe formas descritivas coloca como que estivesse interpretando o passado quando na realidade não ultrapassa o limite constituidor a partir de uma operação historiográfica[1]. Finalmente Foucault opera em sua leitura o divórcio da história com a racionalidade iluminista que se propõe a uma consciência histórica que se quer a única via da salvação e do saber humano. Isso tem alimentado várias discussões sobre problemáticas ligadas ao ensino da história e que o seu não rompimento faz com que sejamos condenados à monotonia dos discursos vazios e totalmente deslocados das relações imanentes. Esta por sua vez está distante do lugar onde se situam os espaços do saber histórico escolarizados. Portanto é importante atentarmos para o que nos alerta Foucault:
O que até então, velava pela segurança do historiador e o acompanhava até o crepúsculo (o destino da racionalidade e da teleologia das ciências, o longo trabalho contínuo do pensamento através do tempo, o despertar e o progresso da consciência, sua perpétua retomada por si mesma, o movimento inacabado mas ininterrupto das totalizações, o retorno a uma origem sempre aberta e, finalmente, a temática histórico-transcendental), tudo isso não corre o risco de desaparecer, liberando à análise um espaço branco, indiferente, sem interioridade nem promessa? (44/45).
[1] Numa próxima leitura estaremos mostrando através do texto de Michel de Certeau o que seria essa operação historiográfica que atravessa o corpo morto e dá-lhe signos.
5 Comentários:
ZICO parabéns pela ilustração. foi tudo que queria. abraços do Odemar.
Por Anônimo, às 4:44 AM
Dema, que belo "mais um" texto que vc nos presenteia. Lendo vc escrever sobre as transformações na produção historiográficas, a partir das proposições lançadas por Foucault, fui rememorando algumas questões que tratei na prova escrita do concurso e também na didática e que iam me empurrando exatamente para a operação historiográfica formulada/proposta por Michel de Certeau, que venha então o próximo o quanto antes que estou ansiosa esperando. Beijos
Por Anônimo, às 6:49 AM
obrigado rachel. fico feliz com seu comentário. isto me anima bastante. quero ler o seu. abraços
Por Anônimo, às 8:32 AM
Oi, gostei da abordagem de seu texto e da proposta do blog....interessante mesmo...sou da área de ciências sociais e trabalho com esses autores q vc discute...legal mesmo...
aguardo sua leitura de Certeau!
Cristina Maria.
abraços...
Por Anônimo, às 7:19 AM
cristina. obrigado pelo comentário. gostaria de ter o seu email para a gente trocar idéias. meu email é oleotti@bol.com.br abraços do odemar
Por Anônimo, às 7:58 AM
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