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sexta-feira, maio 05, 2006

CERIMÔNIAS DO ESQUECIMENTO-Ricardo Guilherme Dicke: o catador de histórias sem fim.

Com os olhos de observador do cotidiano da vida, ou melhor, da infinidade de vidas, DICKE parece querer prender um espaço da memória, ou de sua fabricação como que queira protege-la para que se procrie, se multiplique, parecendo menos querer uma história que conserve um modelo único de vida que possa garantir uma certeza de dias melhores e muito mais querer recolher lugares da memória que faz soltar a memória para que ele se perca na luxúria do pensar, na sua disseminação de linhas tortas onde se possa fornicar com o passado como brecha para parir presentes diferentes, futuros que não agrilhoe a eternidade de cada instante, de cada fulguração do parecer que convenha a cada história. Fica parecendo uma história para quem ainda interessa por lembranças que roça as barras da calça, que dá frio na costela, que dá solidão, que dá vontade de se jogar para dentro de si para voltar para seu útero. Vejam um pouquinho de DICKE. Saboreie este seu jeito meio pantaneiro, meio chapadense de colocar mundo por palavras.

“Aquela noite já passou e que até já se esqueceu e se misturou com a noite de hoje que a gente sem quere vai devagar misturando e se esquecendo. A gente esquece os dias e as noites? Esquecimento, fadigas das neblinas? Barro das olarias”. P. 11.

“... quem sabe direito dessas histórias? Histórias são histórias, como na vida. Lendas também podem ter acontecido, para isso bebendo se acredita de repente, da susto, como quem desperta de chofre de algum sonho que nos levava na sua correnteza não sabe para onde em que direção: Sul, Norte, onde? Ninguém. Só aquele homem de olhos enevoados que contava essas histórias. Quem sabe e conserva as histórias ? ninguém, como na vida antiga, que todos sabem! Só nós mesmos que paramos aqui, amodorrados, perdidos dentro de nós mesmos, de cara de sombra embora, com olhos de barro que se desfazem na noite, talvez nossos olhos neblinosos que vemos tudo em névoa e névoa, cataratas que vão se desmanchando brancos na noites com o fragor da vida, cada vez mais, contando essas histórias que vão nascendo na argila branda da memória que não se esquece fácil, cercado da persistência do esquecimento que rói tudo teimosamente como as ratazanas do olvido roem o queijo da lua, requeijão das estrelas, como ilhas e, arquipélagos do céu. Modorra, morrinha, mormaço, tristeza, crepúsculo. Moscas pesadas. E as caras em sombras dos bois que passam.” P. 15.
Fonte: Odemar Leotti oleotti@bol.com.br
Foto:www.valholl.hpg.ig.com.br/figuras/freixo_raizes3.jpg

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