CERIMÔNIAS DO ESQUECIMENTO-Ricardo Guilherme Dicke: o catador de histórias sem fim.
“Aquela noite já passou e que até já se esqueceu e se misturou com a noite de hoje que a gente sem quere vai devagar misturando e se esquecendo. A gente esquece os dias e as noites? Esquecimento, fadigas das neblinas? Barro das olarias”. P. 11.
“... quem sabe direito dessas histórias? Histórias são histórias, como na vida. Lendas também podem ter acontecido, para isso bebendo se acredita de repente, da susto, como quem desperta de chofre de algum sonho que nos levava na sua correnteza não sabe para onde em que direção: Sul, Norte, onde? Ninguém. Só aquele homem de olhos enevoados que contava essas histórias. Quem sabe e conserva as histórias ? ninguém, como na vida antiga, que todos sabem! Só nós mesmos que paramos aqui, amodorrados, perdidos dentro de nós mesmos, de cara de sombra embora, com olhos de barro que se desfazem na noite, talvez nossos olhos neblinosos que vemos tudo em névoa e névoa, cataratas que vão se desmanchando brancos na noites com o fragor da vida, cada vez mais, contando essas histórias que vão nascendo na argila branda da memória que não se esquece fácil, cercado da persistência do esquecimento que rói tudo teimosamente como as ratazanas do olvido roem o queijo da lua, requeijão das estrelas, como ilhas e, arquipélagos do céu. Modorra, morrinha, mormaço, tristeza, crepúsculo. Moscas pesadas. E as caras em sombras dos bois que passam.” P. 15.
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