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domingo, abril 23, 2006

AMIGO

Eu só queria te dizer alguma coisa, mas o sinal estava abrindo e o carro de traz buzinava nervoso. Você sumiu derrepente enquanto eu procurava um lugar para estacionar o carro, e não encontrei. Quando vi sua imagem se perdendo numa esquina gritei,mas,par mim tristeza, você nem quis me ouvir. Eu tentei ti alcançar, mas, para meu bespanto, você nem olhou para traz. Corri tentando ti alcançar, mas, ofegante,com olhar perdido, entendi que você nem quis me esperar, Fiquei triste e cabisbaixo, sentado na calçada. Meu olhar se perdia num misto de tristeza e desencanto. Parecia que cada vez mais a vida separava as pessoas. O que sobrou a não ser um olhar triste? Pensamento tentando ti alcançar. Onde estará meu amigo? Não pude nem imaginar. Nunca mais pude mirar seu rosto, seu sorriso, sua mão amiga que sempre ajuda a gente a levantar. Hoje fico pensando que vai aparecer naquele boteco e dar tapas em nossas costas. Mas tudo é só pensamento. Saiba Deus onde esteja você. Mas como louco vejo os jornais, assisto à televisão. Fico aflito com você assim sem a gente para ti defender. Pensamos no bar o que pode estar sentindo nesse mundo longe, estranho e perverso. Queria ouvir sua voz gritando a gente nos nossos encontros matinais de domingo longe do trabalho que nos separa em secções. Queria pelo menos ouvir você gritando num fone de orelhão como você costumava gritar com o torcedor do time rival quando o coringão ganhava. Mas você nem liga. Você nem liga pra mim. Quando vejo crime no jornal fico tenso, apavorado. Vejo logo o rosto do morto a face do bandido. É um negro, não é você . Tudo começa de novo, um dia após o outro, e você nem me dá notícia. Por que você nem liga, será que não tem mais voz? Ai me pego me desconjurando por pensar o que não quero nunca pensar e chamo isto de besteira. Queria ti dizer, que o mundo é grande. Que nunca chegará ao fim. Mas se continuar andando, quem sabe um dia, ao olhar na estrada, eu possa ver sua silhueta ao longe. Então a turma vai gritar alegre: vem beber uma. Sua cadeira está ali sempre vazia. Sua forma do nada espalhou o vazio por todo o bar, por toda a rua. A turma espera você nesta cadeira vazia. Aliás, não está nunca vazia, pois você é colocado ali nela quando aparece nas conversas, nos casos que contava que nós repetimos e fazemos você voltar. Mas ao invés de rir nossos olhos enchem de lágrimas. Esses causos são só seus por isso venha. Sua cadeira está vazia. Emanam vozes nas bocas dos que não tem mais o que falar sem misturar com a sua. Sempre olhamos para a porta que um dia você saiu e nunca mais voltou. Sempre olhamos para ela. Olhamos sempre sua silhueta inventada pela nossa saudade. Sempre olharemos para essa porta. Ela dá vazão a um olhar para a auto-estrada que leva as cargas do tudo pela estrada do nada. Nossos olhos miram sempre esta estrada. Quem sabe numa destas você nos sacaneia. E quem sabe... Possa ser você!
Odemar Leotti: oleotti@bol.com.br
Fonte da Foto: www.pintoresmexicanos.com/mpilar/Ausencia.jpg

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