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segunda-feira, maio 01, 2006

EXCESSOS DE PODER ou LUZES E SANGUE NO "ILUMINAR" OCIDENTAL.

Suas faces se desfaleciam. Desnutriam-se. Seus crimes quais foram? A verdade? Eles pensaram a mentira? Mentiras e verdades: como alguns as têm? Seus rostos iam desaparecendo. Tudo recai sobre o corpo. A exclusão, a prisão, a tortura, a demarcação, o controle espacial: por gênero, por idade, por dinheiro, por cor, por tudo. Por tudo que se possa ser diferente há o confinamento. Uns mais escandalosos outros mais sutis. Terror que espanta e terror que encanta. O que é pior: tornar a violência banal ou tornar a banalidade uma violência? Eis aí você? Pensa! Pensa! O preço que lhe cobro é pensar! Homens, mulheres e crianças. Todos estavam fadados a serem marcados. Jovens, velhos, crianças. Gulag ou Carandiru. Onde meus sentimentos se libertam de minha prisão que só vê com dor o que está lá longe? Carandiru, Teblinca, Guantanamo, Gulag. Eles são tratados como o gado é tangido pra ser encarcerado. Como se canta agora a efusividade liberal? Como se canta agora a internacional? Como se canta agora? Como se canta? Como se canta o Hino Nacional? Como se canta sem olhar os que exclui como mal? Como se canta agora Guantanameira? Como se canta? Fingindo não ver mouros enjaulados como figuras do mal? Que cena mais medieval! Como se canta o hino às crianças? Crianças sem lei, sem rei, sem deus. Os índios foram assim? Sim, foram marcados assim. A lei incrustada em cada um de nós, nós de rede geral, de rede funcional. Senão seremos do mal.
Eles chegavam aos montões. Eram turbas de prisioneiros. Todos eram julgados por uma verdade construída em nome da luta de classes, em nome da civilização. Era isso que pedia Marx? Era isto que pedia Hegel? Mouros deixaram a península. Ela era ibérica, agora cristã. Eram multidões em fileira sendo enxotados. Multidões chegavam do nordeste, eram montões. Eram futuros incertos, ou certos ou escravos da certeza implacável? Eram turbilhões de desvalidos, sim isso é só o que sabemos o que eram. Eram turbas do campo sendo expulsos no tempo de JK, enquanto ficávamos preocupados com seu amor clandestino, não víamos seu horror clandestino. Ah! balela, papo de comunista. Eles vinham em turbas: era Londres e Paris do século dezenove, era Rio de Janeiro no vinte, era Eldorado dos Carajás de hoje. Eles vinham em turvas turbas. Eram refugiados africanos? Não? Ah! .Eram fugitivos afegãos? Palestinos? Não? Eram turistas europeus em turbas buscando paraísos? Ah!. Eles viviam no inferno? Enfim onde está o céu? Ora bolas isso é papo de ateu?
To ouvindo uma voz que aparece. Ela ta vindo ali do lado. É um gemido um grunhido. É moribundo por todo lugar. Capitalista vira nazista. Comunista vira stalinista. Americano prende árabe como bicho. Polícia prende negro como animal para ser enjaulado. É no Haiti. O Haiti é aqui. Ai que dor pode nos afetar. Não dá mais pra acreditar. A razão não é universal. Por isso não é liberal. Não é socialista. Não é salvação cristã. A razão está em cada qual. Cada qual é todo mundo. Todo mundo em cada qual. Qual é meu mano, tira os panos. Mostre sua nudez. Viva já que está vivo. Quem sabe se você resolver aproveitar sua passagem de vida vivendo se distrairá, gozará e deixará os outros viverem, gozarem.
Por Odemar Leotti
Fonte Foto:www.carmencarmen.blogger.com.br/multidao.jpg

4 Comentários:

  • Na ânsia de civilizar cidades e povos, a sociedade ocidental produziu o que há de mais fantástico e o que há de mais asqueroso também. Quantos outros emergem das palavras de Odemar... Mas por que outros? Para quem outros? Tantos outros, variados outros, talvez seja a rica variedade de nossa intolerãncia.

    Por Anonymous Anônimo, às 12:59 PM  

  • obrigado Rachel

    Por Anonymous Anônimo, às 3:57 PM  

  • Odemar(Dema), essas produções são resultados de suas leituras que agora alimentam seus ricos textos. São vozes daquelas páginas que nelas você se debruçou no silêncio das madrugadas. Há diálogos de vários autores, é isso que se chama intertextualidade, tecido de muitos fios.Seus textos são ricos como você, que dá muito para os outros, posso dizer com certeza. Com você aprendi muita coisa, conheci outros aspectos da vida. És uma pessoa humana de muita grandeza.Adelice(Ada).

    Por Anonymous Anônimo, às 6:03 AM  

  • obrigado adinha. tudo isto devo a você. pois tive vc me levantando o semblante quando ele estava desanimado. você foi a mulher que soube ver em mim o que muitas nao conseguiram. você ve longe porque vê no proximidade. na proximidade da porosidade da pele. nao na pele do consumismo dos modelitos, mas na pele de alguém que se sensibiliza com a injustiça. ti amo minha preta. dedico este texta vc e a Fernandinha e a Camilinha que foi nosso duendizinho quando nao tinhamos a nandinha. agora ao outro passageiro desta nossa viagem ao nosso querido sobrinho Marcelo. obrigado.

    Por Anonymous Anônimo, às 9:11 AM  

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