.

quinta-feira, março 30, 2006

"UM TEXTO PARA VACAS"

Ruminar as palavras. Interpretar e ruminar, e depois interpretar num ir e vir. Só depois usá-las, e somente pra o viver. Nada mais. Nietzsche nunca quis leitores modernos. Sempre o que quis foi leitores “vaca”. É preciso caminhar novamente no descampado. Aí está a arte da vida. Da composição da vida. É esse lugar que sofre e já sofreu tantas e fortes intervenções. Reimplantou-se um mundo do dito e exilou-se do ser a propriedade de interpretação como forma de criação da vida. A vida perdeu a noção de tudo é um sendo constante, cortante, penetrante, obreiros de vivencialidades. Essa arte transformadora arte/ficção, artífice, artificializadora da vida. Fazer das coisas formas, criar moradas, nossos solos que firmam nossos alicerces da possibilidade de existências, sejam maiores ou menores. Cria nosso habitat, nossa posse do viver, nosso pertencimento. Cada grupo, cada aglomerado, cada pequeno chão, cada resquício que possa ter deixado a marca de um instante: de um bêbado, de um mendigo, de uma criança, de uma borboleta, de um instante em que cada um como um pequeno sopro de vida possa ter habitado por ínfimos instantes. Cada pulsar, cada sopro, cada suspiro, cada gemido, foram instantes ocupantes de espaços de vida. Cada coisa dessas, cada mônada, cada forma que se quis dar à vida, todas precisaram das palavras. Suas palavras, palavras que os interpretaram e possivelmente decidiram seus destinos. Tudo foram operações, cultivos de palavras: umas férteis, outras áridas, umas amorosas, outras apodrecidas em sua mesquinhez, tudo foram palavras. Palavras são cultivadas e lançadas ao vento. É preciso palavras para cultivar. Palavras não podem ser disciplinadas. A história foi feita para a vida e não a vida para a história. Cultivar palavras para a vida, história para a vida, direitos para a vida e não para a prisão. Formar linguagens fora das formas más. Sujar de chão as palavras, de argilas do pisar constante. Picadas além de só auto-estrada, trieiros o dia inteiro como forma de escapar do caminho do matadouro d´almas. Clareiras nas matas do igual, são marcas que antes inquiriram pensar. Pisar e pensar. Pensar e pisar. Linguagens inseparáveis da poeira do dia todo, da estrada toda, do tempo que é todo agora e não depois. Formas de estar, formas do sendo. Sendo sempre, sempre sendo. O ser é um eterno sendo dos eternos instantes do fazer e refazer da vida. Criar a via do fazer poético. Viver a vida, e... se possível ... Uma vida de todo instante, e enfim vida por inteira
Odemar Leotti

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home