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quarta-feira, maio 12, 2010

DOS PÉS À CABEÇA: DA TERRA À SUA NEGAÇÃO.

Dos pés à cabeça; da cabeça aos pés: o mais perto é o mais longe. Volte filho para onde toca seus pés. É daí que você se faz e é aí que deve morar. Longe daí ti ensinaram a viver. Nuvens ti carregaram para longe do torrão de sua sabedoria. Poeiras ficaram distantes e a nostalgia ti toma invadindo seu corpo, pois seus pés tão perto estão tão esquecidos de onde pisa. Aí o pisar perde seu tato com a terra sua gestadora e alimentadora. De onde vem a energia do seu corpo filho. Vem de sua mãe e de seu pai. A terra alimenta-se da energia do pai o sol. A energia penetra na pele, nas folhas, nas águas, nos frutos, nos animais e também em você. Esses frutos penetram pela sua boca e ti alimenta. Distribui por toda parte do seu corpo e despeja do volta o que deve ser retornado à terra. Porém todo esse ciclo foi quebrado filho. Seus antepassados despejavam seus dejetos nos matagais então eles eram revolvidos pelos insetos, pelos besouros, formigas e outros animais que se encarregavam de redistribuí-los em suas devidas funções de fazer retornar a potência às sementeiras e com elas fazer germinar de novo a vida: o eterno retorno do mesmo, da sua devolução aos insetos, dos insetos às sementes, das sementes à germinação da plantinha, da plantinha à recomposição das matas, daí as flores, das flores à polinização, obra de arte da divindade das abelhas. Daí a multiplicação se manifesta: crescei e multiplicai disse o mestre. É meu filho, mas você achou mais fácil repetir dogmas do que repetir a vida. Os dogmas mofam a vida e a vida em sua repetição é a refazenda que vai refazendo tudo. Portanto o mundo passa pela sua boca e sai para refazer o mundo numa eternidade de instantes que compõem a vida. Cada cultura em cada lugar inventou sua maneira singular de lidar com o refazer da vida, pois a vida era o sentido maior e todas elas entendiam que o maior está presente em pequenos instantes. Que eles brotam coma água nas minas e que se produzem por fluxos contínuos. É somente isso que se pode chamar de continuidade: o instante maravilhoso do refazer dos instantes, dos gestos numa eterna ecologia dos seres: sol, terra, energia distribuída, alimentação, dejeção e reprodução energética em consonância com os insetos, as sementes, fazem a maravilha dos sêmens que se acoita com o circular da vida.
Porém temos outra história que precisa ser contada filho. Há muitos anos, ou seja, há quinhentos anos mais ou menos antes do calendário inventado como sendo o cristão, houve uma grande ruptura na nossa forma de pensar a vida. Foi nesse instante que sofremos um deslocamento dos conceitos de vida: saímos do instante maravilhoso do eterno retorno e do refazer do novo para um tempo da postergação. O que era a eternidade do instante passou a ser considerado como de acumulação. A eternidade passou a ter um preço. O preço seria sua negação. Negar o instante maravilhoso onde a vida se refaz era a maneira de alcançarmos uma essência que estava oculta. A partir daí uma verdade estabelecia as condições de sermos sujeitos nessa vida. Portanto fomos dos pés para a cabeça. O lugar onde os pés sempre estiveram foi considerado como do erro e que deveria ser esquecido e que dele deveríamos tomar a maior distância possível. Passamos a viver uma história que nos tornava animais da promessa. Nossa vida deixava de ser a do instante maravilhoso dos fluxos e passaríamos a viver negando seus impulsos para podermos alcançar uma purificação e buscarmos a partir daí o mundo eterno, onde não precisaria mais haver a ecologia que falamos anteriormente. Por falar nisso você notou que Noé não levava os insetos em sua arca? É porque o mundo prometido desse pensamento não ia mais precisar deles, pois a eternidade do instante que precisava deles foi sendo deixada de lado. A vida agora era de negar nossos impulsos, pois a austeridade seria a forma de aproximarmos cada vez mais da vida: em suma, negar a vida do agora era a única forma de adquirirmos uma vida que sempre nos foi postergada. Entramos então numa filosofia da história. A vida agora aparecia de forma que todas as experiências do mundo fossem inimigas da busca da perfeição, pois eram consideradas como fruto de erros, de superstição. O mundo da opinião era considerado como da degeneração humana e do mundo. O homem virou um ser escravo de uma forma de saber que negava seu maior potencial que é a energia que recebe e que transforma em coisas alegres, gostosas como cantar, gritar, comer, fazer sexo e com isso ir refazendo a vida como era antes. Lembra do começo da explicação? Depois conto mais. Inté.

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