ARTAUD, NIETZSCHE E A FRAGILIDADE E CONSISTÊNCIA DAS PALAVRAS - Odemar Leotti
Não podemos generalizar a vitória de um lado, pois as contaminações se dão de todos os lados no embate dos sentidos e de suas apropriações infinitas no tempo e no espaço. Foram contaminados pelos europeus, mas estes se contaminaram com os saberes e podemos dizer inclusive fizeram uso dessas culturas em situações complicadas que trazem e trarão grandes problemas, tais como o uso de drogas adquiridas com essas culturas. Portanto antes de a eles se “submeterem” os submeterem a novas analogias misturadas e disfarçadas pelas simulações, porém mesmo não sendo intencional, podemos dizer que o próprio ato de apropriação se dá com cada forma do estabelecimento das leituras e das condições de sua produção e não unicamente como quer um tipo de historiografia. É nesse palco improvisado e rigoroso em suas formas análogas das palavras e dos símbolos que nos sentimos sendo, nesta terra mundializada em tantos mundos e em suas digladiações simbólicas.
"O Pesa nervos", “a vida é queimar perguntas”, o que deve reportar a Pedro Abelardo, [30 nota] dando um passo além de Descartes: a dúvida não deve ser apenas metódica até alcançar a evidência, mas a atividade mental deve ser levada a um tal ponto de interrogar-se que chegue à "destruição da evidência".
Pode-se observar nisto tudo a palavra dançando na linguagem, tirando dela toda a sua solidez e, mostrando toda sua bela imperfeição. Instauro-me no nada, no solo inseguro da linguagem que me desmonta, me destitui e me faz ser um eterno guerreiro da vigília do entendimento do mundo. Mundo foi feito para ser feitura constante onde eu seja seu protagonista da feitura. E isso não para de ser assim. Se não fazemos de forma salutar as coisas nos vêm de forma perversa e destruidora. Como nos afirma Hölderlin, as palavras servem para fazer a vida e para enunciar a morte. Vivemos nessa vertigem constante. Não podemos entregar sua feitura a outrem. O estanhar do mundo é uma constância luta em torno dos sentidos. O que nos oferecem como forma pronta pode ser nossa destruição naquilo que nos caracteriza como ser pensante. Portanto a evidência deve ser usada e descartada ou nem mesmo usada, porém o importante é que não aceitemos nada com evidência definitiva, e devemos sim perseguir a resposta e massacrá-la com novas perguntas. Os sentidos são como uma teia de aranha: é frágil a ponto de se desmanchar a um leve toque de dedo, porém tem a consistência e a solidez ao enfrentar a mais forte tempestade. Ao encontrarmos uma teia em um ramo de árvore e o a tocarmos se desmancha facilmente, porém se quebrarmos essa galha e a jogarmos a um mar enfurecido, a teia flutuará e se condicionará no relevo de suas ondas e sairá intacta. Essa metáfora da teia, nos presenteada por Nietzsche, serve para entendermos que a vida é feita de signos, de sentidos produzidos na linguagem, e, portanto tem a fragilidade de se desmanchar a um pequeno toque e a consistência de suportar as mais terríveis avalanches. A vida é produto de nossa eterna vigília e tessituras infinitas. É isso a vida: o nada e o ser-no-mundo, sendo feito e refeito, onde somos artistas de nós mesmos.
Foto:www.jomasipe.no.sapo.pt/web_roda_da_vida.jpg
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