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quarta-feira, dezembro 05, 2007

O ALEATÓRIO E O SISTEMÁTICO - Odemar Leotti

O aleatório é o pensamento expressado e exprimido que brota no resvalar das fendas e vai alimentando o complexo cotidiano do viver. Entre um engolir constante e a ânsia de um respirar da alma, o pensamento vai formando no aleatório do viver uma pequena chama da existência.
Como um redemoinho tudo vai se desfazendo nesse jogo de guerra entre o desejo de pertencimento e a constante e infatigável necessidade de refazimento da vida.
Como um tecelão incansável, vamos tecendo novas formas onde possamos espraiar nossa vivencia no solo como um louco desvairado se transfigurando em um navegador na busca de seu porto.
Surge o desconhecido, surge o incapturável e a vida é posta no jogo da vertigem, o solo se desfaz de sua solidez e equilíbrio. Nessa hora cruel rogamos às verdades que nos protejam e nos reafirmem no solo para depois a desprezar e tentar não lhe render tributos castradores do ser.
De queda em queda vamos alheando a verdade causticante, o redemoinho engolidor com seu palato incansável de devorar vidas para que outras brotem em seus lugares.
Sentimos-nos então nesse oceano que somos nós, quase, todos. O oceano sobre o qual nos devoramos em busca do flutuar constante se mistura como a água que quase no todo somos como se elas ao quererem se libertar do corpo queira nos trair com as irmãs oceânicas e queira nos imolar nos jogando à mercê de sua forma horripilante como quer nos engolir.
Como bolhas passamos a viver nas espumas flutuantes como resto do mar a ser jogado nas praias junto a uma garrafa para noticiar quem é.
Vertigem no pensar, vertigem no olhar, vertigem é o que sentimos quando perdemos nosso firmamento, nosso solo que inventamos para viver. É essa a nossa sina, é esse nosso fardo. Pega joga na costa esse peso da voz do mundo, do nosso norte, da nossa sorte, desse destino com um milhão de curvas ordenadas por uma reta implacável e perversa.
Assombrados pelo silvar dos ventos vamos apoiando no ar nesse moinho de vento que se constrói no nada uma totalidade tênue e efêmera que nos contentamos para podermos estar aqui nessa nossa pátria, nessa nossa língua morada dos indigentes que se fazem para não se desfazerem perenemente. Essa forma intermitente do viver, esse cajado que recebemos para apoiar nosso ser limite que se desmessura para viver.
Como uma queda abismal no Niágara, vivemos na terra do inferno, na busca do tempo nobre. Como uma queda, nos despedimos a todo instante e nos agarramos ao pequeno arbusto da esperança. Para não quedar, para não esborrachar vamos levantando as mãos tremulas, as mãos ansiosas e inseguras que tentam arrastar o peso do corpo e o desejo da alma.
Queremos a todo custo de volta o topo da fusão. Fundirmos de novo ao aço que nos inteira. Somos ovelhas desgarradas, frágeis e trêmulas que se quedam ao tentar se distanciar do rebanho e que volta ofegante abismo acima na busca de um acalanto do viver, mesmo que seja no colo aconchegante dos que nos querem destruir.
O X da vida, essa incógnita terra. Esse infinito insondável, inclassificável que de forma paradoxal precisamos manter para nos assegurar do novo e da reoxigenação da vida.
Firmação e vertigem. Quando pensamos estar seguros em nosso porto eis que somos arremessados ao desconhecido, ao incógnito que fogem à captura e tornam impotentes nossos signos e com eles nosso entendimento, nossa identidade e volta a ameaçar nossa morada.
E sentindo-se como uma partícula perdida na areia de uma praia gigante, nos sentimos arrastado pelas ondas do oceano profundo querendo nos engolir de novo, na força terrível que faz para nos levar para suas profundezas insondáveis.
Como um moinho que nasce no coração, vamos-nos tornando uma partícula giratória e vamos constituindo um redemoinho da vida, um quadro onde nos chamamos ser.

Fonte: www:frasesaleatorias.files.wordpress.com/desenho

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