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sexta-feira, fevereiro 01, 2008

A MIRAGEM CAUSTICANTE - Odemar Leotti

Tantos súbditos se formam à nossa revelia. Vão e vem nesse formigamento que corrói nossa vontade domada. Desejos rondam nossa morada porosa e nos faz desesperados correndo de sua fustigação eterna. Como dói sentir e não poder dar vazão ao espaço sensível do ser pulsante. E a vida pulsa impiedosamente amante do ser. Um ser causticante e invisível nos comanda nas suas grades inóspitas de nós mesmos. Ao mesmo tempo prisioneiro e carcereiro. Não vemos quem nos retrata. Quem nos retrata não existe. É fruto do expectador que é o próprio artista da obra onde nós nos desfazemos e nos roubamos de nós mesmos. Sinto um triangulo nefasto criado em algum tempo e lugar. Sinto-me preso a esse espaço implacável que eu mesmo faço funcionar. O artista retratado retrata o modelo que o retrata. Parece uma repetição da santíssima trindade em sua forma moderna. O pai, o filho e o espírito santo. O espectador-modelo toma-se de arte purificada e iluminada por algo invisível e coloca seu filho, o artista enquadrado a falar em seu nome. Nada mais pode se expandir pelas profanas linguagens do mundo. Tudo agora está recolhido ao mundo pelas mãos do demiurgo que criou o artista iluminado pela ponta mágica de seu pincel. Esse artista engabelado vai dar volume ao mundo. Ele é filho, não mais do espírito santo, mas de uma razão delimitadora do ato de sua operação. As mãos não mais são tateantes na busca do sensível, a fala não mais se contamina com o emaranhado das línguas ao léu do mundo. A vida agora segue uma ordem que está fora do quadro. O expectador em seu lugar invisível dá volume aos artistas que aparecem como profetas não mais e sim como iluminados, não mais da alma suprema, mas de um saber supremo: o Deus conhecimento, que é puro e que se exilou do mundo e que volta para purificá-lo. Eis aí o espetáculo tomando volume. Eis uma miragem causticante.
Foto:www.sir.k.tibete.blog.simplesnet.pt/archive/SIR-K-SOMBRA1.jpg

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